O apaixonado

Rodrigo Ramazzini – Jornalista e cronista

– Amor! Posso… Posso te fazer uma pergunta?
– Ai! Quando tu começas assim é porque vem bomba.
– Não! Não… É que estive pensando…
– Putz! Vinícius eu te conheço bem. Quando “pensas” é porque é sério o assunto. Vamos logo, desembucha!
– Sabe, Francini… Estava pensando… Já faz um tempo que a gente namora, né?
– Bah! Mais precisamente oito anos, onze meses e quatro dias…
– Pois é… É uma situação que temos que resolver.
– Eu não acredito que estou ouvindo isso… Até que enfim vamos nos casar!
– Quem… Quem falou em casamento, Francini?
– Ué! Não é isso?
– Não!
– Ai! Vou até me sentar. O que foi desta vez, Vinícius?
– É que… É que eu…
– Tu tens outra?
– Não! Não é isso…
– Mesmo?
– Claro, Francini!
– Não mente para mim…
– Não estou mentindo.
– Então o que é?
– É que eu estava pensando…
– Não quer casamento na Igreja. É isso?
– Não! Não é isso, Francini. Deixa-me falar.
– Fala…
– Bom! Mas o que eu queria te perguntar…
– Se a gente pode morar juntos, sem papel assinado, a resposta é sim!
– Meu Deus! Ela não me vai deixar falar…
– Fala, Vinícius!
– Se tu deixares, eu falo.
– Tu queres acabar o namoro. É isso, né? Não fica enrolando…
– Ai ai ai! Não é isso, Francini.
– Aquela vez que brigamos, tu fizeste essa mesma ladainha!
– Francini: quantas vezes será preciso eu dizer que te amo! Que tu és a mulher da minha vida! Hein?
– Sei… O que é então?
– Bom!
– Pergunta logo. Já está me dando uma ânsia…
– É que tínhamos pensado em nos casar no final do ano que vem, certo? Temos aquele dinheirinho já guardado…
– Pensado não! Por mim já está certo. A não ser que o noivo desista…
– Não é bem desistir a palavra certa.
– Eu sabia que era isso! Se tu queres acabar vá direto ao assunto, Vinícius! Não precisa ficar nessa lengalenga. Seja homem!
– Calma, Francini! Não é isso. Já te disse! Não precisa chorar. Calma!
– Como calma, Vinícius! Como calma? Como tu podes pedir calma pra mim, hein? Tu estás acabando com o nosso namoro e queres que eu tenha calma, Vinícius? Por favor!
– Mas que acabando o quê? Francini escuta uma coisa: eu não estou acabando o nosso namoro. Eu só queria te perguntar se podemos adiar o nosso casamento. Em vez de ser no próximo ano, ele ser no seguinte a ele. Só isso?
– E por que, meu Deus? Com esse seria o terceiro adiamento.
– Porque, sinceramente, eu encontrei uma das minhas paixões…
– O quê?
– Amor! Finalmente encontrei aquele diplomata, ano 92, que eu procurava. Sempre sonhei em ter um! O carro é lindo! Banco de couro, ar-condicionado, direção hidráulica e mais um monte de coisa. Eu não posso perder essa chance, eu tenho que comprar! Aí pensei em pegar o dinheiro do casamento e dar de entrada e financiar o resto… O que achas?
– Eu não acredito que estou ouvindo isso!

Fonte: Comunique-se

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