Brasil brilha com luz própria na França*
Beatriz Lecumberri – Paris
Potência política, um modelo de diplomacia, uma inspiração no cinema e na moda e um exemplo de como viver com alegria: o Brasil seduz cada dia mais os franceses, que aproveitam este ano dedicado ao país sul-americano para saber mais sobre o seu governo, sua música e sua história.
O Ano do Brasil na França, iniciado em março passado, inundou as principais cidades francesas com eventos relativos ao país, aumentando a curiosidade e o encanto que os franceses sentem pelo gigante sul-americano.
O mais gratificante é observar que, para os franceses, há algum tempo o Brasil não é apenas sinônimo de carnaval, samba, praias, futebol, mulatas ou índios amazônicos.
Nos últimos dias a imprensa francesa tem elogiado persistentemente as iniciativas brasileiras na área da diplomacia. O respeitado “Le Monde”, por exemplo, destacou a primeira cúpula entre países árabes e sul-americanos, celebrada na semana passada em Brasília para o desenvolvimento de um verdadeiro bloco Sul-Sul.
Dias antes, a revista “L’Express” dedicou um grande artigo à eficaz luta do governo brasileiro contra a Aids e o “Nouvel Observateur” lembrou que o Brasil foi capaz de rejeitar uma ajuda financeira de 48 milhões de dólares dos Estados Unidos para o tratamento da doença porque aquele país exigia que as prostitutas fossem excluídas do programa.
“As ONGs brasileiras de luta contra a Aids já informaram que não havia razão alguma para mudar a orientação do programa de governo que atende homossexuais, prostitutas e viciados sem discriminação”, destacou o jornal, lembrando que este programa reduziu à metade as mortes por Aids no país.
Paralelamente, as declarações do presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, sempre têm grande repercussão em importantes publicações francesas.
Em um momento em que o Brasil aspira a um cargo permanente no Conselho de Segurança da ONU, frases de luta contra o unilateralismo e a democratização da ONU são especialmente bem recebidas na França.
O momento mais aguardado desta temporada dedicada ao Brasil será a visita do presidente brasileiro à França, prevista para 14 de julho, dia da festa nacional, quando Lula assistirá a um desfile militar ao lado do colega francês, Jacques Chirac, na avenida Champs Elysées, em Paris.
Além do âmbito político, dezenas de shows, exposições, festivais de música e de cinema, fóruns econômicos e outros eventos se multiplicam na França com a chegada da primavera boreal.
No Festival de Cannes (sul), uma nova geração de cineastas brasileiros tem se destacado especialmente e com ocasião do Ano do Brasil, a televisão francesa exibiu novamente o clássico “Orfeu Negro”, do francês Marcel Camus, uma adaptação do mito grego de Orfeu e Eurídice no Brasil dos anos 50, que recebeu a Palma de Ouro no Festival de Cannes em 1959.
Ao mesmo tempo, as delícias da culinária brasileira chegam aos lares franceses, enquanto os últimos sucessos da música popular são ouvidos nas rádios e bares e produtos “made in Brazil” causam furor.
Biquínis, as já famosas sandálias de borracha Havaianas, as últimas tendências da moda de São Paulo, os móveis de Minas Gerais, os amuletos de proteção do “candomblé”… Por tudo isso os franceses pagam três ou quatro vezes o preço cobrado no Brasil, em nome da febre em torno de tudo o que diz respeito ao país.
Um dos melhores exemplos deste “boom” brasileiro que invade as ruas de Paris é, sem dúvida, o “Favela Chic”, inaugurado no final dos anos 90 como um pequeno bar, transformou-se em um dos restaurantes-discoteca mais badalados da cidade.
Entre a feijoada e o fois-gras, o bom vinho Bordeaux e a caipirinha, muitos franceses começam a hesitar.
*Íntegra do texto distribuído ontem pela agência de notícias France Presse (AFP), a propósito dos eventos culturais que marcam o ano do Brasil na França.