FHC 2006

Na falta do que fazer e dizer, consultando as pesquisas que o colocam como o mais rejeitado de todos os eventuais candidatos, FHC declarou que não concorrerá à presidência da República em 2006 – sem que ninguém lhe tenha perguntado. É uma pena. FHC deveria ser candidato.

Emir Sader*

FHC vaga, na sua profissão de ex-presidente, recolhendo dólares com palestras, enquanto ainda consegue audiências. Parece que a fundação FHC que os empresários paulistas lhe deram de presente não é brinquedinho suficiente. FHC fica circulando pelos cantos, professando sua “fracassomania” e exibindo uma triste decadência.

Na falta do que fazer e dizer, consultando as pesquisas que o colocam como o mais rejeitado de todos os eventuais candidatos, FHC declarou que não será candidato a presidente em 2006 – sem que ninguém lhe tenha perguntado.

É uma pena. FHC deveria ser candidato. O PSDB, se acredita mesmo no que diz – nas maravilhas do governo FHC, do que foi feito no governo brasileiro de 1994 a 2002 – deveria lançá-lo como candidato. Colocaria seus dois governos, quando contou com maioria absoluta no Congresso e na grande imprensa privada, a julgamento pela população.

Ele já foi julgado, pela rejeição do seu governo e pela derrota do seu candidato. Mas agora poderia contar com a comparação com o governo Lula. Se acredita que governou melhor do que Lula, deveria se submeter ao julgamento da cidadania. Se não o faz, é uma confissão de que sabe que fracassou drasticamente nos oito anos em que governou com todos os poderes possíveis.

Na campanha eleitoral, FHC poderia brandir seu lema da campanha pela reeleição – comprada, sem que nenhuma CPI fosse sequer instalada: “Quem terminou com a inflação, terminará com o desemprego.” Claro que teria de explicar por que, ao invés do fim do desemprego, voltou a quebrar o país e, ainda durante a campanha eleitoral, Pedro Malan já negociava com o FMI um novo super-empréstimo. Como algumas das funestas conseqüências das quais o Brasil ainda não saiu, o Banco central elevou a taxa de juros a 49% (sic), o país entrou em uma prolongada recessão, da qual ainda não saímos.

FHC poderia de novo prometer que no seu governo os ministérios mais importantes não seriam os econômicos, mas os sociais. Poderia de novo utilizar aqueles dedinhos para enunciar suas prioridades sociais. Mas teria que explicar porque tudo isso foi mentira nos seus oito anos de governo, porque o país ficou mais pobre, mais injusto, o Estado onze vezes mais endividado, a soberania nacional mais debilitada do que nunca.

Vamos, tucanos! Vamos, FHC! Deixem de bravatas: lancem FHC candidato à presidência da República. Confiem na democracia. Arrecadem todos os bilionários fundos que o grande empresariado paulista – antes de tudo os banqueiros – colocará à sua disposição para a campanha. Chame de novo o assessor de Clinton para a campanha eleitoral.

Coloque a decisão nas mãos do povo, para ver se brasileiro tem memória. A rejeição que as pesquisas apontam não deve atemorizá-lo, se for democrata. O povo saberá se pronunciar de forma soberana e cristalina. FHC candidato à presidência em 2006 ou confissão dos tucanos de que tem medo e vergonha dos governos que realizaram.

Emir Sader, professor da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), é coordenador do Laboratório de Políticas Públicas da UERJ e autor, entre outros, de “A vingança da História”.

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